“Uma boa definição de disciplina seria a
aquisição da capacidade que permite que a razão seja mais forte e vença nossas
vontades e nossa preguiça. É porque desenvolvemos essa qualidade que
conseguimos fazer exercícios maçantes, todos os dias, na mesma hora. É porque
somos disciplinados que evitamos comidas com muitas calorias ou prejudiciais à
saúde. Vem da razão a força que nos faz abrir mão de coisas materiais para
poupar e atingir um objetivo maior. Pessoas disciplinadas são capazes de
estudar quando estavam mesmo é com vontade de assistir à televisão ou bater
papo com os amigos. Não resta a menor
dúvida: pessoas disciplinadas terão maiores chances de sucesso nas atividades às quais se dedicarem.
Tenderão a ser criaturas aplicadas e determinadas, buscando com afinco alcançar
seus objetivos. Se tiverem razoável talento, vencerão no jogo competitivo da
vida. Entre talento e disciplina, é melhor ter os dois. Porém, em longo prazo,
a disciplina é mais importante. Não nascemos disciplinados . Passamos os
primeiros tempos de nossa existência cheios de vontades e amargando fortes
dores e revoltas sempre que nossos desejos não são satisfeitos. Toleramos mal
as frustrações. É verdade que, desde o início, há pessoas que aceitam melhor as
contrariedades. Essa capacidade de aceitação aumenta à medida que se
desenvolvem a linguagem e o raciocínio lógico. Ambos nos ajudam a compreender
por que nossas vontades nem sempre podem ser satisfeitas. O fato de existirem
explicações e razões que determinam a não realização de determinado desejo nos
acalma e nos deixa mais tolerantes para com as frustrações. Aprendemos pela
reflexão e pela lógica, a aguentar melhor as dores. Entendê-las, nos ajuda a
suportá-las. A principal tarefa da educação, especialmente durante os primeiros
anos de vida consiste em sermos capazes de domesticar nossas vontades. Uma
visão equivocada da psicologia nos conduziu, nas últimas décadas, a dar ênfase
e privilegiar o livre exercício do desejo. O freio limitador dos impulsos foi
encarado como algo repressivo e negativo. Além disso, os pais, com medo de
traumatizar os filhos e de perder o amor deles, têm-se furtado à tarefa, às vezes
desagradável, de estabelecer limites e estimular as crianças a usar com
eficiência a razão para dirigir suas vidas. Na educação infantil, essa é a
tarefa número um dos pais. Aprender a utilizar a razão em benefício próprio, a
criança e depois o adulto, experimentam enorme satisfação quando se sentem disciplinados.
Sim, porque é nestes momentos que nos consideramos animais mais sofisticados,
os racionais. A alegria íntima de quem se levanta cedo, faz exercícios e chega
na hora certa aos compromissos assumidos é algo que não pode ser subestimado. A
gente se sente forte, quando consegue se controlar e sentir que venceu a batalha
mais árdua, que é a batalha interior. A auto-estima logicamente aumenta.”(Dr.
Flávio Gikovate – Médico Psiquiatra e Diretor do Instituto de Psicoterapia de São
Paulo)
“A
disciplina e a ordem podem prejudicar a criatividade? (...) Rigidez
é uma coisa, rigor é outra. Os artistas, que trabalham com criação, costumam
ser super-rigorosos. Já rigidez é acreditar que uma coisa só pode ser feita de um
jeito, definido arbitrariamente (...)” (Revista Nova Escola – Professor Lino de
Macedo – Instituto de Psicologia USP).